quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A cidade e os indivíduos


A cidade se configura, na atualidade, como centro de vital importância tanto para a realização plena da civilização em âmbito mundial quanto para a configuração do cidadão comum, ávido por experiências.

Seria, então, um erro acreditar que a cidade corrompe o homem aos moldes do que acreditava a corrente rousseniana, pois, como é notadamente visível, a cidade tornou-se - e montou para si - uma rede de valores e serviços que não concebem o homem com ser bom ou mal por natureza, mas fruto concebido de suas próprias experiências, sejam elas boas ou ruins.

As experiências, cuja oferta certamente é mais abundante em metrópoles que no interior, mas que, nem por isso, são isentas de tais, tampouco estéreis - ordenam os indivíduos para a sua própria compreensão em face de um grupo, uma tribo ou uma comunidade, de modo que são responsáveis, em boa parte, pela configuração dos espaços públicos, tornando, senão palco de conflitos, onde grupos de experiências divergentes e intolerantes (como nazistas e punks) se massacram, pelo menos espaços nos quais a tolerancia é tomada à risca: depois de duas hecatombes mundiais, a maioria dos homens tomou consciência de que a diplomacia talvez seja melhor caminho a percorrer que o da selvageria bélica.

Além disso, a cidade, se palco de tolerância, permite a proliferacao dos pontos de contato de experientes divergentes que não no espaço público. O público afro-descentes, frequentadores de ambientes específicos, é receptivo àqueles que, de bem e boa-fé, queiram partilhar de uma nova experiência antropológica bom como a comunidade surda-muda também aceita visitantes em seus recintos semilogicamente privadosde tal maneira que, culturalmente, nos últimos anos, a cidade motivou o "conhecer o outro" ("Umheimlich", na concepção freudiana do fenômeno) em vez de simplesmente aniquilar a experiência alheia.

Pode-se criticar a cidade das maneiras que se desejar, mas, em todos os casos, o humanos, ser individual e indubitavelmente social, somente se apropria de sua consciencia em função do outro. E nisso, a cidade se mostra majoritariamente privilegiada.