segunda-feira, 19 de julho de 2010

O inferno de Dante


You`ll never find Beatrice

Nunca li "A Divina Comédia" de Dante Allighieri. Desconfio, inclusive, que a maior parte das pessoas que comentam que leram, nunca chegaram mais próximo do texto do que uma passada de olhos na estantes e uma reconsideração pautada pelo tradicional "eu quero ler um dia..." tão vago quanto o verdadeiro desejo de ler.

Porém, conheço o enredo. Muito pouco para falar a verdade. Na faculdade, soube que eram três volumes - céu, purgatório e inferno - do qual todos os poucos que leram consentem de que o inferno é a parte mais divertida. Não duvido. O inferno sempre intrigou (e atraiu) o homem mais do que o céu.

Não duvido inclusive porque, nestas férias, descobri como animadores e a indústria cultural têm reaproveitado o mote de Allighieri, transformando o famoso texto medieval em um jogo de plataforma e estratégia viciantes, com gráficos impressionantes e apelativos, absurdamente em consonância com a obra (as fases são marcadas por cada círculo da obra), com participaçao especial inclusive de Vírgilio e meu mito preferido, Aqueronte. E com um trilha sonora invejável.

O game é instigante, vertiginoso e sanguinário, como nao poderia deixar de ser e, por isso, um sucesso.

Sei que os mais tradicionais - normalmente pais e acadêmicos - hão de encontrar nessa nova versão um índice para a degeneração da humanidade e todo aquele blá-blá-blá de que o passado era melhor. Não faz diferença: o jogo já está montado e está nos colocando os contemporâneos mais em contato com o conteúdo da obra do que provavelmente todas as geraões passadas tiveram. Mas isso, convenientemente, não será contabilizado. Uma lástima.

O inferno de Dante provavelmente não é, na modernidade (existe mesmo uma modernidade?), como descreveu o autor: está muito melhor! O inferno está dado para os pais, que se verão com filhos intrigados com expressões como "Voce nunca encontrará Beatriz" e não entenderão. Verão se às voltas com seus filhos comentando de Vírgilio e Boccaccio e confundir-se-ão. Com o perdão do trocadilho, a vida dos pais virará um inferno.