segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Avatar - síntese dos valores atuais


Quem assiste Avatar, do diretor James Cameron, encontra por trás dos inumeros efeitos especiais e abrangencia temática muitos dos valores comerciais divulgados na mídia que concernem à população civil e que, tao somente por isso, tornou-se moeda de troca de grandes marcas.

O primeiro valor que vale notar é a retomada da vida original. O Primitivo sempre foi alvo de especulações: os árcades imaginavam-no bucólico, Picasso imaginava-o aos moldes da quebra da mímesis da representação, Freud construía-o pela infância e etc. Avatar vai além, encontra em uma sociedade primitiva totalmente organizada (e que, curiosamente, lembra a organizacao das sociedades tribais)o retorno às origens, de maneira biológica e direta, ou seja, toda criatura selvagem de Avatar possui um mecanismo biologicamente coerente que o permite se ligar a tudo no mundo.

E por causa dessa ligação - e da necessidade dela - vem a preocupação ambiental das criaturas e é aí que Avatar posiciona-se estrategicamente: não é um filme inocente, que, embora plástico em sua totalidade, simula uma aparente ingenuidade. Relata,antes, cenas de depredação em que o lema, a quem quer que o assista é unanime: Uma árvore faz a diferença.

O filme reflete a preocupação da sociedade preocupada com a sustentabilidade, muito embora o grande trunfo seja a comercializção dessa tal sustentabilidade por grandes empresas a fim de manter a sua depredação ambiental usual em favor do seu lucro cotidiano. Nada de novo.

Além disso, a produção trata da diversidade: em um mundo cuja preocupação seja evitar o retorno de políticas fascistas, descobriu-se que, possivelmente, a única maneira de fazê-o fosse estimular o contato com o outro, nao como desconhecido e inimigo, mas conhecível e aliado. E, por que não, mediado pela tecnologia?

É inevitável ver, então, que a possibilidade de contato entre humanos e Na'vi esteja intimamente conectado por um traço tecnológico que nao deixa de ser um clichê: tem-se em ambiente real, pessoas reais, comunicando-se por corpos que não são, realmente, os seus próprios: exatamente como ocorre quando você lê esse texto e parece conhecer o escritor, ou quando conversa com alguém no seu próprio MSN.

O filme entao vai acumulando discussões: a ciência é um aliado da humanidade ou é produtora da concorrência por materia prima para sustentar um mundo corrompido sedento por destruição.

E essa ciência está pronta para desvendar os limites do espiritual através de suas metodologias por vezes falhas? E a política militar tem limites baseados na indústria ou em um interesse social? Enfim...somente perguntas!

Avatar peca somente em um único detalhe:lança mão de muitos temas. Inicia até certo ponto uma reflexão, mas nada que realmente chega a um ponto definitivo ou inovador, e parte-se para outro, como quem corta bolhas de sabão no ar. Inocentemente? Nao se engane: não vale tanto assim para grandes marcas iniciar uma discussão profunda sobre os temas que o filme sugere. Não mesmo.