segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Perfumaria


Quem lê "O perfume" de Patrick Susskind, surpreende-se com uma narrativa vertiginosa, intrigante e envolvente envolvendo o mundo (que, para os leigos, começa a ficar interessante) da perfumaria.

Na obra, o protagonista, Grenouille, possui duas características peculiares: seu olfato é apuradissimo e, como nao poderia faltar um pouco do fantástico, dotado de um senso estético. Sim, caro leitor, pode haver senso de beleza até mesmo para as essências.

O segundo, é que nao possui cheiro algum. E devido a esse pequeno defeito, nao é reconhecido entre os homens. Para ser bem sincero, por isso, o pequeno é marginalizado.

O que interessa, hoje, é que Grenouille possui senso estético para os odores e essencias, e, numa parte bem intrigante da narrativa, detesta os homens por causa de seu cheiro de putrefacao que lhe causa asco.

PArece besteria, mas, quando reli essa obra, fui tomado por uma curiosidade: quais sao os cheiros que o homem utiliza para disfarcar o seu próprio cheiro, negando-se, assim, sua própria animalidade?

Primeiramente, no banheiro, todos encontraremos uma colecao diversa de cheiros. A comecar pelo shampoo que pode, sendo modesto, pode ser no minimo de leite. Depois tem os de plantas (aloe vera, alecrim, e outros temperos de comidas) e os de doces (maracuja, chocolate, caramelo, pudim de leite condensado).

DEpois, o sabonete. Sempre de uma planta exótica e terapeutica em cujas embalagens podemos encontrar facilmente descricoes, no mínimo, suspeitas: jaborandi, de desenvolvimento sustentável, o banho natural, e lá vai o cidadão esfregar contra o corpo - e contra seu próprio cheiro - uma barra de cheiro de guaraná.

Sobre a pia, desodorantes. Cheiros de madeiras, cítricos, adocicados, enfm, depois que se esfrega chocolate ao cabelo, guaraná ao corpo, cheiro de madeira já não é tao inesperado assim.

Depois o talco para os sapatos, a água de Colônia, a pasta de dentes, o oleo de eucalipto na casa, o desinfetante de pinho, o tubinho para perfumar o carro, o chiclete para o mau hálito, enfim, Suskind é um dos escritores que nao acredito que tenha visionado um futuro mas que sua aposta ficcional pela podridao de odores disfarcaveis do homem encontra respaldo hoje do banheiro ao escritótio, ah, isso não há como negar.