Letras, Linguística, Literaturas, Línguas... Um pouco de tudo que concerne a língua luso-brasileira, a literatura e cultura. Tudo enlatado. Pronto para levar para casa e com prazo de validade.
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Perdoes-os, Deus, pois ensurdecem!
Parece inevitável à modernidade a confluência de mídias em um único dispositivo, de tal maneira que, em apenas um celular, é possível convergir browser de internet, agenda de contatos, Ipod, jogos de alta definição e o tradicional "paciência" tao comum aos que frequentam as filas de bancos.
E de todas as características presentes no celular - e excluído de sua função comunicativa oral - a que mais se destaca é a liberdade para a música que o celular permitiu.
Seja realista. Pense em todos os meios de transportes que existe e que fazem parte de sua vida. Se for um carro privado, pense com que frequencia voce liga o rádio como companhia ou até mesmo para evitar de ficar aquele silêncio constrangedor entre você e o passageiro com quem nao tem muita intimidade e que só está alí porque o carro dele nao pode sair de casa por causa do rodízio.
Mas se o leitor tomar transporte público, pense nas pessoas que os frequentam. Todas elas. Quantos deles usavam fones de ouvido? E com quantos deles o leitor se arriscaria a entravar um diálogo? Nenhum, mesmo o entretido estando em contato direto com um aparelho que servia em tempos quase remotos à comuicação humana, hoje, ele funciona exatamente como um isolante (eficaz)dos diálogos e preocupações alheias.
Justo! Se não existe intenção de comunicação, por que alguém deveria subjulgar seus timpanos a sons desagradáveis como o do motor em funcionamento ou da receita de brioches que as senhoras no banco atrás ao seu discutem quando voce pode se deleitar buscando o seu prazer nos sons que expressam sua subjetividade ou seu estado de espírito?
Infelizmente, a ausência de comunicação é uma evidente característica da modernidade. Se é evitável ou não é uma questão em aberto. E que não encontrará tantos debatedores - nem ouvintes - assim. Há preocupação demais com a próxima música que com apelos acadêmicos puramente discursivos. Ficamos cada vez mais surdos e desejosos disso.
Perdoe-os, Deus, por que ensurdecem aos apelos do outro. Mas se tal apelo nao é ouvido, é provável que até mesmo Ele esteja ouvindo alguma canção em seu celular.
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