Quem assiste ao filme "Coraline" de Tim Burton impressiona-se pelas altas doses de violência dissimulada - tão característico do diretor americano - aliado a temas de difícil tratamento com as pequenas crianças: o amor materno expresso em excesso de zelos.
Notadamente, criar um filho e oneroso bem como requer credito inavaliável de tempo somente justificável somente pelo amor de mãe. Será?
Poucas vezes, vi uma autêntica cena de amor materno, legitima e despretensiosa. Pais têm filhos com a mesma intenção com que têm casas grandes e espaçosas ou carros esportes: mostrar aos amigos e compará-los.
Não comparam somente os filhos com os dos colegas através da escolha das profissões que seus pequeruchos tomam, com as notas que tiram, com a personalidade comunicativa que têm: o amor materno é mais cruel que isso.
Mães vangloriam-se por oferecer o que há de mais caro no mercado (substituindo o amor?), repleto de marcas e logotipos, de preferência, mundialmente famosos (desde o nome do colégio até a marca das roupas de baixo dos pequenos) como se, de alguma maneira, a cifra final da compra mensurasse o afeto e carinho que sentem. Besteira.
Pais são fracos ao ponto de gastar uma infinidade somente para estabelecerem uma imagem social de pais zelosos. E nada mais simples para ter uma imagem do que comprá-la. E se depender do mercado, à vista.
E, assim, pais-clientes podem adquirir produtos para seus filhos, tornando-os objetos (tão compráveis quanto expiráveis), mais ou menos como funciona quando garotas compram bonecas na infância...
Adolescentes compram, com o dinheiro e a conveniência de seus pais, a Barbie (ou qualquer outro brinquedo), depois o celular da Barbie, depois a roupa de festa da Barbie, depois o Ken da Barbie (sim, leitor, namorados e “amor fiel” também se compra. Apedreje-me se tiver plena convicção – e argumentos, é claro – de que estou errado) da mesma maneira com que compram o celular da moda , o sapato da moda, a calça da moda com o dinheiro e a convênciencia de seus pais...tudo porque, um filho, sem os devidos acessórios, não é comparável ao do vizinho.
Pais e filhos, por fim, são relações conturbadas...não existe amor legítimo: é requerido de mães carinho, atenção e dedicação de maneira exaustiva e quase imperativa, principalmente quando todo esse zelo tende a se converter, principalmente, em dinheiro. Negá-lo seria a maior evidência da “falta” de amor que poderia haver.
Quanto aos filhos...são evidentemente fracos e corruptíveis como seus pais: fingem confundir o dinheiro com amor e acomodam-se a isso, porque, no fundo, querem ter o celular (tanto o da Barbie quanto o da moda), o carro (mais o da moda que o da Barbie) ou qualquer outro bem material que, com uma boa chantagem, valha o amor da mãe.